CHIADO
Ainda bem que os portugueses já não leem.
Foram à Índia, jogam futebol, tratam do PIB – desenrascam-se.
Dizia-se que a poesia eleva: tudo o que um português precisa é de ter os pés bem assentes na terra, que é dura e pedregosa. Um livro são ideias que já foram pensadas – melhores ou piores, ideias em segunda mão. Um português constrói o seu próprio livro. Escreve-o ou desenrasca-o – ou passa bem sem ele e diz «Que se lixe».
É diferente de um inglês que lê Shakespeare sem dividir as orações nem estudar sintaxe ou de um espanhol com o seu Cervantes. Um português não é um idealista como o Quixote nem realista como o do burro; está nas coisas como Camões que era um aventureiro pragmático o que, em português, significa idealista e realista consoante as conveniências.
Os portugueses gostam dos seus escritores e não os leem para que eles publiquem livros cada vez melhores, para que não se limitem, como Pessoa, a publicar uma única Mensagem.
Os escritores portugueses devem escrever pensando que toda a sua obra será póstuma e que terão uma estátua no Chiado como o poeta Chiado que poucos portugueses sabem quem foi.